Enfermagem FOC

Enfermagem FOC
Enfermagem Faculdades Oswaldo Cruz - Compondo uma Nova História do Cuidar

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Condições de uso de medicamentos entre os profissionais de uma Instituição de Ensino Superior (IES) de São Paulo –SP.



 ARETE SAUDE HUMANA Ano 1, Vol.1  Out/Nov/Dez  Série  25/10, 2013, Série 25/10 p.01
Unidade de Investigação do Curso de Enfermagem das Faculdades Oswaldo Cruz -São Paulo -SP. 
enfermagem@oswaldocruz.br

(i)Ionara Martins de Gouveia, 
(i)Maria Aparecida de Souza,
(i)Rosangela Caetano de Almeida Borges ,
(i)Rafaela Maria Gregório dos Santos
(ii)Eric Boragan Gugliano

(i) Alunas do curso de Enfermagem das Faculdades Oswaldo Cruz
(ii) Biólogo com mestrado em Psicobiologia. Professor no curso de Enfermagem das Faculdades Oswaldo Cruz

Resumo
               De acordo com dados da OMS o consumo indiscriminado de medicamentos tem aumentado consideravelmente em todo mundo, principalmente nos países desenvolvidos. Estudos realizados no Brasil têm demonstrado que o uso de medicamentos varia com a idade, sexo, condições de saúde e outros fatores sociais, econômicos e demográficos. Em relação a classe trabalhadora, no Brasil, apesar da relevância de pesquisas epidemiológicas sobre uso de medicamentos, poucos são os estudos disponíveis e ainda são raros os estudos que apresentam a população trabalhadora como população-alvo. O objetivo deste trabalho foi avaliar um público alvo de funcionários de uma Instituição de Ensino Superior (IES), em São Paulo, em relação ao consumo, conhecimento, automedicação e descarte de medicamentos comparando-se  gênero,  autoconceitos de saúde e idade. Foi encontrado um maior aumento no consumo de medicamentos em mulheres, não foram percebidas diferenças entre idades e ambos os gêneros relataram consultar médico, porém descartam indevidamente os restos dos medicamentos.  No grupo das mulheres destacam-se repositores hormonais, anti-inflamatórios, anti-hipertensivos, antialérgicos, antipiréticos, calmantes,  antidepressivos, vitaminas e analgésicos. No grupo dos homens destacam-se anti-inflamatórios, analgésicos, antipiréticos, antibióticos, anti-hipertensivos e cardiotônicos. Os dados dessa pesquisa estão de acordo com o da literatura que apontam maior consumo pelas mulheres  principalmente anti-inflamatórios, anti-hipertensivos.

Introdução
Os medicamentos são essenciais no processo  de recuperação e manutenção da saúde e bem estar dos  seus usuários. Porém a crença excessiva no seu poder terapêutico tem o tornado como mercadoria especial como único meio validado para se obter saúde.  Relacionado a esse fato outros problemas surgem como  automedicação, uso indiscriminado, intoxicações e reações adversas. (BORGES LUZ,  2012 apud  BARROS,2008).
De acordo com o relatório sobre consumo de drogas no mundo (http://www.unodc.org), divulgado em agosto de 2011 pelo escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODOC) existe o uso abusivo de medicamentos no Brasil, mas os níveis de consumo de drogas ilegais continuam estabilizados. Foi relatado que no Brasil, Costa Rica e Chile existe uma alta prevalência de prescrição de opióides (analgésicos).
Estudos realizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS),apontam que cerca de 50% da população mundial faz uso irracional de medicamentos, o que é resultado da grande disponibilidade das variações das drogas no mercado. “ O uso indevido de remédios é considerado um problema de saúde pública não só no Brasil, mas mundialmente. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que o percentual de internações hospitalares provocadas por reações adversas a medicamentos ultrapassa 10%. Os analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios são os mais usados pela população brasileira sem o atendimento às recomendações médicas. Por isso, são também os que causam mais intoxicação (http://www.anvisa.gov.br). 
Estudos realizados no Brasil têm demonstrado que o uso de medicamentos varia com a idade, sexo, condições de saúde, e outros fatores sociais, econômicos e demográficos. Conforme (ROZENFELD,2003) o consumo é maior entre os idosos, com dois a cinco produtos utilizados simultaneamente e excesso de consumo de supérfluos (desnecessário) de medicamentos, mas também sub-utilização de medicamentos essenciais para o controle da doença.
De acordo com Bertoldi(2004) ainda existem poucos estudos brasileiros de base populacional que tenham investigado uso em adultos de uma forma global.  Alguns estudos têm buscado informações de grupos específicos, como crianças, idosos, escolares, mulheres, gestantes, ou desfechos localizados em determinados grupos farmacológicos ou ainda no perfil da automedicação. Outros estudos demonstram que a utilização de medicamentos é maior em mulheres, idosos, indivíduos com plano de saúde suplementar, com pior autoavaliação do estado de saúde, com presença de doenças entre  outros. 
Em relação a classe trabalhadora, no Brasil, apesar da relevância de pesquisas epidemiológicas sobre uso de medicamentos, poucos são os estudos disponíveis, e ainda são raros os estudos que apresentam a população trabalhadora como população-alvo (BORGES LUZ, 2012 apud   ACURCIO,2006). 
As pesquisas sobre utilização de medicamentos  em saúde ocupacional estão centralizadas em trabalhadores na área da saúde como trabalhadores de hospitais. Segundo Borges Luz (2012)  os trabalhadores da área da saúde apresentam carga de trabalho e responsabilidade excessiva, além da insegurança na estabilidade do trabalho o que acarreta piora no estado de saúde e consequentemente o uso de medicações. A classe de medicamentos mais utilizada, encontrada nesse estudo em questionário aplicado em trabalhadores do Instituto de Pesquisa Evandro Chagas, refere-e a ação no sistema nervoso, especificamente os analgésicos.

Objetivo
O objetivo deste trabalho foi avaliar um público alvo de funcionários de uma Instituição de Ensino Superior (IES), em São Paulo, em relação ao consumo, conhecimento, automedicação e descarte de medicamentos comparando-se   gênero,  autoconceito de saúde e idade.
Metodologia
A pesquisa foi realizada em agosto de 2012 e constitui  de aplicação de   de um questionário (ANEXO - A) e termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO- B) entre funcionários de uma Instituição de Ensino Superior (IES) de São Paulo-SP. Os questionários e  os termos de consentimento foram distribuídos por setor de trabalho e recolhidos posteriormente. O questionário avaliou automedicação, condição de saúde, os tipos de medicamentos utilizados, o uso de fitoterápicos e o descarte dos medicamentos. Para tabulação de dados foi usado o critério, distribuídos por faixa etária, gênero, escolaridade e setor de trabalho.  O número de participantes foi de 40, sendo 14 homens e  26 mulheres.

Resultados
Os dados  estão expressados em frequência absoluta.



Gráfico 1: Maneiras como descarta sobras de medicamentos

Gráfico 2:Autoconhecimento sobre condições de saúde



Gráfico 3: Uso racional ( medicamentos prescritos)  



Gráfico 4: Uso de medicamentos fitoterápicos


Gráfico 5: Uso de medicamentos por faixa etária e gênero


TABELA 1- AUTOCONCEITO DE SAÚDE


 Condições de uso de medicamentos entre os profissionais de uma Instituição de Ensino Superior (IES) de São Paulo –SP (2012)
Pergunta: Atualmente você considera sua saúde boa?
MULHERES
92,30% RESPONDERAM QUE SIM
HOMENS
81,25    RESPONDERAM QUE SIM

TABELA 2-USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
Condições de uso de medicamentos entre os profissionais de uma Instituição de Ensino Superior (IES) de São Paulo –SP (2012)
Pergunta: Quando precisa de medicamento o que é mais comum acontecer?
MULHERES
 65,38% CONSULTAM MÉDICOS
HOMENS
 42,85%  CONSULTAM MÉDICOS


TABELA 3-USO  DE FITOTERÁPICOS
Condições de uso de medicamentos entre os profissionais de uma Instituição de Ensino Superior (IES) de São Paulo –SP (2012)
Pergunta: Você faz uso de fitoterápico?
MULHERES
 19,23% USAM
HOMENS
 0%       NÃO USAM


TABELA 4-CONSUMO DE MEDICAMENTOS POR IDADE
Condições de uso de medicamentos entre os profissionais de uma Instituição de Ensino Superior (IES) de São Paulo –SP (2012)
 4.a)-Assinale o(s) grupo(os) de medicamento(s) que se utilizou nos últimos 06 meses.  
HOMENS
18 a 30 anos
 28,57%utilizaram
MULHERES
18 a 30 anos
  23,07% utilizaram
HOMENS
31 a 60 anos
 21,42% utilizaram
MULHERES
31 a 60 anos
 30,76% utilizaram


CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados da pesquisa, percebemos que aqueles que relataram boa saúde foram a maioria dos entrevistados, mas isso não é uma regra para o não uso dos medicamentos. Mesmo relatando boa saúde, os profissionais fazem uso dos mais variados tipos de medicamentos. Dentre estes, no grupo das mulheres destacam-se repositores hormonais, anti-inflamatórios, anti-hipertensivos, antialérgicos, antipiréticos, calmantes,  antidepressivos, vitaminas e analgésicos. No grupo dos homens destacam-se anti-inflamatórios, analgésicos, antipiréticos, antibióticos, anti-hipertensivos e cardiotônicos. Conforme os estudos comprovam, nesta pesquisa também constatamos que o número de mulheres que fazem o uso de medicamentos, tanto racional como irracionalmente é bem maior do que o número dos homens, até em se tratando no uso de medicamentos fitoterápicos, onde os homens pouco se medicam em relação as mulheres. Porém não foi possível observar uma diferença em relação a idade, pelo número reduzido de participantes que fizeram a devolutiva do questionário.  Outro fator relevante nesta pesquisa, foi em relação ao descarte dos medicamentos, pois o maior número de entrevistados relatam o descarte em lixo comum, o que trata-se de um assunto preocupante para o meio ambiente. Com isso, além da  necessidade da conscientização quanto do uso irracional  de medicamentos, o descarte apropriado é de bastante relevância, pois trata-se de um assunto de extrema importância nos dias atuais.
Nosso trabalho está de acordo com Bertoldi (2004) que realizou pesquisa sobre uso de medicamentos em adultos, na zona urbana de Pelotas, aonde foi encontrado  grande diferença  por sexo, principalmente pela utilização de anticoncepcionais pelas mulheres. Retirando esse grupo de medicamentos a prevalência  ainda foi maior 40 % maior do que  os homens. Os autores discutem que as mulheres  são mais preocupadas com a saúde, procuram mais os serviços de saúde e, portanto, são mais sujeitas a medicalização. Observou-se também o aumento crescente de medicamentos na faixa de homens jovens. Os analgésicos e anti-inflamatórios  também foram os mais utilizados. Os autores ainda discutem o aumento do uso de medicamentos para o coração comparados com estudos anteriores.
           De acordo com a ANVISA (http://www.anvisa.gov) existe a diferença entre automedicação e uso indiscriminado. A auto medicação é definida como a utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não-habilitadas para tratamento de doenças cujos sintomas são "percebidos" pelo usuário, mas sem a avaliação de um profissional de saúde. O uso indiscriminado já tem um conceito mais amplo; está relacionado à "medicalização", ou seja, uma forma de encontrar a cura para doenças e promover o bem-estar usando exclusivamente medicamentos, o que pode levar ao consumo excessivo e constante destes produtos. 
Conforme ARRAIS (2005)  verificou-se , em estudo realizado na cidade de Fortaleza-CE, que renda familiar mensal, sexo, idade, presença de doença crônica, cobertura por plano de saúde e realização de consultas ao médico nos meses que antecederam a pesquisa foram prováveis fatores determinantes do consumo de medicamentos nos  15 dias anteriores a avaliação.
Apesar da escolaridade fazer parte de nossa análise, muitos dos entrevistados não responderam o que dificultou fazermos a relação com o consumo de medicamentos. Nos trabalhos internacionais, o grau de escolaridade aparece, principalmente, relacionado ao aspecto do consumo por automedicação, com tendência crescente de consumo entre os mais escolarizados(ARRAIS,2005 apud Figueiras,2000). No Brasil ( Franco,1987) evidenciou a mesma coisa. De modo geral, um maior nível de escolaridade está associado a um maior conhecimento e discernimento sobre o processo saúde-doença.
No geral, tanto os homens (57,14%) como mulheres(65,38%) relataram consultar o médico quando precisa de um medicamento, portanto demonstrando uso racional.   Geralmente, a automedicação ocorre com os medicamentos das classes dos analgésicos, descongestionantes nasais, anti-inflamatórios/antirreumáticos e anti-infecciosos de uso sistêmico (MASTROIANNI,2011 apud  ARRAIS,1997).Portanto Schmid (2012) discute que a automedicação responsável pode representar economia para o indivíduo e para o sistema de saúde.
Conforme a Organização Mundial de Saúde, "há uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade". ( CARVALHO,2005 apud OMS,2002) .
Essa pesquisa foi proposta pela Unidade de Investigação do Curso de Enfermagem das Faculdades Oswaldo Cruz -São Paulo -SP. Outros trabalhos realizados avaliaram nutrição, IMC,Hipertensão, Diabetes, predisposição a síndrome metabólica, tanto de trabalhadores como da população do entorno.  

FONTES CONSULTADAS

ARRAIS,P.S.D; BRITO,P.S.D.; BARRETO,M.L.; COELHO,H.L.L. Prevalência e fatores determinantes do consumo de medicamentos no Município de Fortaleza, Ceará, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(6):1737-1746, nov-dez: 2005

ANVISA. Os perigos do uso inadequado de medicamentos. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/divulga/reportagens/060707.htm. Acesso em: 29/08/2012.
BERTOLDI,A.D.; BARROS,A.J.D;HALLAL,P.C;LIMA,R.C. Utilização de medicamentos em adultos:prevalências e determinantes individuais. Rev. Saúde Pública 38(2);228-38: 2004

BORGES LUZ,T.C.; LUIZA,V.L.; AVELAR,F.G; HOKERBERG,Y.H.M.; PASSOS,S.R.L. Consumo de medicamentos por trabalhadores de hospital.  Ciênc. saúde coletiva vol.17 no.2:Rio de Janeiro Feb. 2012

CARVALHO,M.F.DE;  PASCOM,A.R.P; SOUZA-JUNIOR,R.B.; DAMACENA,G.N.; SZWARCWALD,C.L.  Características da utilização de medicamentos na população brasileira, 2003. Cad. Saúde Pública vol.21  suppl.1 Rio de Janeiro  2005


FRANCO, R.C.S.; NETO, J.A.C.; KHOURI,M.A., NUNES, MO, Santana VS, et al. Consumo de medicamentos em um grupo populacional da área urbana de Salvador-BA. Rev Baiana Saúde Pública; 13/14:113-21: 1987

MASTROIANNI , P. de C.; LUCCHETTA ,C.,R.; SARRA ,J.dos R.; GALDURÓZ, J. F. C. Estoque doméstico e uso de medicamentos em uma população cadastrada na estratégia saúde da família no Brasil. Rev Panam Salud Publica vol.29 no.5 Washington: May 2011


Rozenfeld S. Prevalência, fatores associados e mau uso de medicamentos entre idosos: uma revisão. Cad Saúde Pública; 19:717-24: 2003

SCHMID,B.;BERNAL,R.;SILVA,N.N. Automedicação em adultos de baixa renda no município de São Paulo. Rev. Saúde Pública vol.44 no.6 São Paulo dez. 2010


UNODOC.UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. World Drug Report 2011.Disponível em:http://www.unodc.org/documents/dataandanalysis/WDR2011/World_Drug_Report_2011_ebook.pdfAcesso em:26/08/2011